Numa tentativa de sobreviver no cargo, o senador José Sarney (PMDB-AP) emparedou nessa quarta-feira o PT e tornou o Planalto sócio de sua crise. Diante da sugestão de afastamento do comando da Casa apresentada por senadores petistas, o presidente do Senado ameaçou renunciar ao cargo, fato que desencadearia um processo sucessório fratricida na Casa e abalaria a aliança PT-PMDB em 2010. Sarney avisou que só decidirá sobre sua permanência ou não no comando do Senado depois de uma conversa reservada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A cúpula do PMDB no Senado insiste em manter Sarney na cadeira de presidente, com o argumento de que o fundamental para isto é o apoio do presidente da República e do governo, com os quais ele vem contando. A sustentação política no Senado, entretanto, míngua a cada dia. Depois de ter sido abandonado pelo DEM e pelo PDT, de ter virado alvo de uma representação do PSOL no Conselho de Ética e de um pedido de afastamento do PSDB, Sarney ainda teve que ouvir ontem a sugestão do PT para que se licenciasse.
Mas, diante da ameaça do peemedebista em renunciar, sinalizando que sua saída poderia causar prejuízos ao presidente Lula, o PT mudou e passou a tratar o afastamento apenas como uma sugestão ao senador.
Pela estratégia de Sarney, com a sua saída do comando do Senado o governo perderia o apoio de boa parte do PMDB nas votações na Casa e o partido seria estimulado a abandonar a aliança com os petistas para a eleição presidencial de 2010, trocando a candidatura da petista Dilma Rousseff pela do tucano paulista José Serra.
Sob pressão do comando do partido, com receio de perder o apoio do PMDB em 2010, a bancada do PT decidiu se reunir novamente com Sarney no início da noite dessa quarta e procurar Lula para discutir o assunto antes de formalizar sua decisão.
A preocupação do governo com o risco de saída de Sarney já era clara na terça-feira, quando a ministra Dilma (Casa Civil) ligou para o peemedebista e pediu um encontro. A reunião, na casa da petista, vizinha à do senador, contou com a presença do chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho.
Dilma transmitiu um recado de Lula a Sarney – que ele aguardasse o retorno do presidente da viagem antes de tomar qualquer decisão.
Ontem pela manhã, os líderes do governo no Congresso, Ideli Salvatti (SC), e do PT, Aloizio Mercadante (SP), se reuniram com Sarney na casa dele para sugerir que se afastasse do cargo por 30 dias e criasse uma comissão formada por senadores e servidores da Casa para tocar a reforma administrativa da Casa. A decisão havia sido tomada em reunião da bancada. O discurso petista mudou, porém, com a reação de Sarney.
Durante o encontro, logo depois de ouvir a proposta de afastamento, Sarney fez a ameaça de renunciar. Ele disse aos líderes petistas que, depois de perder o apoio do DEM no dia anterior, se também ficasse sem o suporte do PT, não teria mais condições aritméticas de permanecer no cargo.
Lembrou a Ideli e Mercadante que, sem o PT, o governo só ficaria com o apoio do PMDB, PTB, PR e PRB, que juntos somam no máximo 30 dos 81 votos da Casa – já contabilizadas as defecções em seu partido. O senador peemedebista disse ainda aos petistas que iria informar Lula sua decisão de renunciar ao cargo diante da posição petista de pedir seu afastamento do cargo.
Depois disso, Mercadante reuniu novamente a bancada petista, que decidiu então aguardar o retorno ao País do presidente antes de firmar uma posição sobre Sarney.
JC ONLINE
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